LONDRES — O príncipe Harry, da Grã-Bretanha, atribuiu o rompimento entre ele e grande parte da família real às suas constantes batalhas com a imprensa.
Quando questionado sobre até que ponto sua briga com a imprensa sensacionalista “destruiu o relacionamento com sua família”, Harry respondeu: “Acho que isso é certamente uma peça central”, de acordo com um clipe de uma entrevista do jornal britânico Notícias da ITV que vai ao ar na quinta-feira.
Foi “uma pergunta difícil de responder porque tudo o que digo sobre minha família resulta em uma torrente de abusos da imprensa”, acrescentou.
Nos últimos anos, Harry entrou com três ações judiciais contra tabloides britânicos. Esta entrevista foi sua primeira declaração pública desde que sua batalha de quatro anos com o Mirror Group Newspapers concluiu com a decisão do Tribunal Superior da Grã-Bretanha a seu favor. O tribunal citou evidências de uso “generalizado e habitual” de grampo telefônico, contratação de investigadores particulares e outros métodos para descobrir detalhes sobre a vida privada de Harry.
“Parece que eles sabiam de algo antes mesmo de mim”, disse Harry, referindo-se a uma manchete sugerindo que sua então namorada Chelsy Davy estava prestes a terminar com ele.
“É claro que uma manchete como essa não tem interesse público algum”, disse ele, fazendo uma distinção entre o que é “interesse público e o que interessa ao público”.
Harry e sua esposa, Meghan, já culparam a mídia por levar o casal a anunciar que estavam “se afastando” de seus deveres reais em 2020.
Em 2022, uma série da Netflix focou principalmente no racismo e no tratamento dado a Meghan pela mídia, ao mesmo tempo em que culpava o irmão mais velho de Harry, o príncipe William, herdeiro do trono.
O casal acusou a família real não apenas de não apoiá-los, mas também de se envolver em uma guerra de briefings na qual histórias negativas foram fornecidas à mídia para proteger outros membros da realeza ou vazadas para proteger o palácio, no que Harry chama de “jogo sujo”.
De acordo com observadores da realeza, Harry e William empregaram táticas diferentes para lidar com as brigas com a imprensa, enquanto equilibram sua privacidade com seus papéis como figuras públicas financiadas pelos contribuintes e a demanda, às vezes raivosa, dos leitores por detalhes sobre suas vidas.
Os príncipes “expressam seu desprezo pela imprensa de diferentes maneiras”, escreveu a autora real Tina Brown em seu livro de 2022 “The Palace Papers: Inside the House of Windsor — The Truth and the Turmoil”.
“William com uma obsessão sombria e férrea pelo controle; Harry com uma condenação torturada, vocal e frequentemente mal avaliada” e uma “enxurrada interminável de processos” contra a mídia, disse Brown.
Em uma entrevista anterior à ITV, Harry disse que seu pai, o rei Charles, chamou sua decisão de enfrentar a imprensa de “missão suicida”.
Documentos judiciais revelados em abril de 2023 mostraram que, ao contrário dos processos de alto perfil de Harry, William recebeu discretamente “uma grande quantia de dinheiro” em um acordo de 2020 sobre grampo telefônico com o News Group Newspapers, de propriedade do magnata da mídia Rupert Murdoch.
Harry disse ainda que entre suas motivações para os processos estava o tratamento dado pela imprensa à sua falecida mãe, a Princesa Diana, que morreu em um acidente de carro enquanto era perseguida por paparazzi em 1997. Ele afirmou que sua mãe foi “provavelmente” uma das primeiras vítimas de grampo telefônico, embora isso nunca tenha sido provado em tribunal.
A entrevista faz parte de um novo documentário da ITV, Tabloids on Trial, que irá ao ar no Reino Unido na quinta-feira.
Harry tem mais dois processos civis tramitando nos tribunais britânicos, um contra a Associated Newspapers, que publica o Daily Mail, e outro contra a News UK, editora do Sun.
