A rede social extremamente popular TikTok aprovou anúncios contendo desinformação política antes das eleições europeias, mostrou um relatório na terça-feira (4 de junho), desrespeitando suas próprias diretrizes e levantando questões sobre sua capacidade de detectar falsidades eleitorais.
O grupo de campanha internacional Global Witness criou 16 anúncios direcionados ao público irlandês com informações falsas sobre as eleições da UE desta semana e tentou fazer com que eles fossem aprovados por três plataformas: TikTok, YouTube, de propriedade do Google, e X de Elon Musk (antigo Twitter).
O TikTok, que é particularmente popular entre os eleitores jovens, aprovou todos os 16 para publicação, o YouTube detectou 14, enquanto o X filtrou todos os anúncios e suspendeu as contas falsas do grupo, disse a Global Witness em seu relatório.
“O TikTok falhou miseravelmente neste teste”, disse à AFP Henry Peck, um ativista sênior da Global Witness.
Todos os anúncios falsos, enviados pelo grupo no mês passado, continham conteúdo que poderia representar um risco aos processos eleitorais — incluindo avisos aos eleitores para ficarem em casa devido ao risco de violência nas urnas e ao aumento de doenças contagiosas.
Eles também incluíram um aviso falso aumentando a idade legal para votar para 21 anos e apelos para que as pessoas votassem por e-mail, o que não é permitido nas eleições europeias.
Na resposta do TikTok ao estudo, que a Global Witness compartilhou com a AFP, a plataforma reconheceu que os anúncios violavam suas políticas.
Citando uma investigação interna, o aplicativo de propriedade da chinesa ByteDance disse que seus sistemas identificaram corretamente a violação, mas os anúncios foram aprovados devido a “erro humano” de um moderador.
“Instituímos imediatamente novos processos para ajudar a evitar que isso aconteça no futuro”, disse um porta-voz do TikTok à AFP.
'Sem atrito'
A falha em detectar os anúncios ocorre no momento em que os ativistas de tecnologia imploram às plataformas para abordar as crescentes preocupações sobre uma enxurrada de desinformação que assola as eleições em todo o mundo.
Peck insistiu que era “absolutamente vital” que os sites de mídia social agissem contra as ameaças à democracia em um ano repleto de grandes eleições que culminaram na votação presidencial dos EUA em novembro.
“Fiquei surpreso porque o TikTok já detectou conteúdo que viola suas regras no passado e, neste caso, não detectou nada”, disse Peck.
“Parece que tem os sistemas, tem a capacidade e, ainda assim, não houve atrito.”
A Global Witness disse que apresentou uma reclamação formal aos reguladores irlandeses, dizendo que a plataforma pode estar violando regras europeias para mitigar ameaças eleitorais.
No início deste ano, a UE publicou diretrizes sob sua gigantesca Lei de Serviços Digitais (DSA), exigindo que as principais plataformas, incluindo o TikTok, tomem medidas para reduzir o risco de interferência nas pesquisas.
No mês passado, o TikTok divulgou uma declaração detalhando as medidas “abrangentes” que estava tomando, dizendo que estava “profundamente investido” na proteção da integridade eleitoral.
'Dormindo no interruptor'
A Global Witness disse que excluiu os anúncios falsos após receber uma notificação do TikTok de que eles haviam sido aceitos para publicação para evitar qualquer repercussão.
Ele também enviou um anúncio que não continha desinformação, mas violava a proibição de anúncios políticos do TikTok.
O grupo pagou £ 10 por esse anúncio e descobriu que recebeu 12.000 impressões antes que o crédito acabasse.
A AFP, entre mais de uma dúzia de outras organizações de verificação de fatos, é paga pelo TikTok em vários países para verificar vídeos que potencialmente contêm informações falsas.
O TikTok surgiu como um grande campo de batalha eleitoral, à medida que políticos na Europa e nos Estados Unidos — incluindo o candidato presidencial Donald Trump — buscam aproveitar a viralidade da plataforma.
Essa tendência surgiu mesmo com o TikTok sob pressão nos Estados Unidos, onde o presidente Joe Biden sancionou recentemente um projeto de lei que baniria a plataforma se seu proprietário não encontrasse um comprador para o aplicativo dentro de um ano.
“E ainda assim, na Europa, eles parecem estar dormindo no interruptor, como se não estivessem sintonizados com essa desinformação eleitoral tão flagrante”, disse Peck.
Leia mais com Euractiv