A Rússia enviou tanques, artilharia e sistemas de foguetes extras para a região de Kursk, no sul, e impôs medidas antiterrorismo nas áreas de fronteira enquanto lutava contra uma incursão surpresa dos militares ucranianos.
Enquanto isso, as forças ucranianas postaram um vídeo que supostamente as mostrava controlando uma cidade perto da fronteira, a primeira evidência pictórica de seus avanços transfronteiriços.
Em nova evidência dos danos causados na contraofensiva ucraniana, outro vídeo postado nas redes sociais e verificado pela Reuters mostrou um comboio de cerca de 15 caminhões militares russos queimados espalhados por uma rodovia na região de Kursk.
Alguns continham cadáveres.
O governador em exercício da região de Kursk, Alexei Smirnov, disse que destroços de drones caíram em uma subestação de energia perto de Kurchatov, local de uma das maiores usinas nucleares da Rússia, com quatro reatores. A energia para a área foi cortada por um tempo.
O chefe da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU pediu que ambos os lados mostrem moderação em vista da proximidade do conflito com a estação, a 60 km (35 milhas) da fronteira.
Diplomatas russos em Viena disseram à AIEA que fragmentos, possivelmente de mísseis abatidos, foram encontrados, embora não houvesse evidências de um ataque à estação.
Forças ucranianas cruzaram a fronteira na terça-feira em um ataque que pegou os militares russos de surpresa após meses de avanços graduais no leste da Ucrânia pelas forças de Moscou.
Políticos e militares estão se referindo a uma “invasão” ucraniana, quase dois anos e meio depois que a Rússia lançou sua própria invasão em grande escala de seu vizinho.
No início do sábado, agências de notícias russas disseram que o Comitê Nacional Antiterrorismo impôs medidas antiterroristas na região de Kursk e nas regiões vizinhas de Bryansk e Belgorod.
O comunicado disse que a decisão, tomada por Alexander Bortnikov, chefe do serviço de inteligência do FSB, foi em resposta à “tentativa sem precedentes da Ucrânia de desestabilizar a situação em uma série de regiões”.
A agência de notícias RIA disse que as medidas incluíam possível deslocamento de moradores, limites de transporte, segurança reforçada em locais sensíveis e grampos telefônicos.
Dois dias após o Chefe do Estado-Maior Militar Valery Gerasimov relatar ao Presidente Vladimir Putin que o avanço havia sido interrompido, o Ministério da Defesa da Rússia disse que suas forças “continuam a repelir uma tentativa de invasão das Forças Armadas da Ucrânia”.
A agência de notícias Interfax citou o ministério dizendo que a Rússia estava enviando colunas de reforços com sistemas de foguetes de lançamento múltiplo Grad, artilharia e tanques.
Vídeo diz estar em instalação de gás russa
O vídeo ucraniano pretendia mostrar forças ucranianas no controle de uma instalação de medição de gás administrada pela empresa russa Gazprom na cidade de Sudzha.
“A cidade é controlada pelas Forças Armadas da Ucrânia, a cidade está calma, todos os edifícios estão intactos”, disse um soldado no vídeo, acrescentando que a “instalação estratégica da Gazprom” estava sob o controle de um batalhão ucraniano.
A Reuters não conseguiu verificar este vídeo e o Estado-Maior do exército ucraniano não fez nenhum comentário. O presidente Volodymyr Zelenskiy manteve um silêncio estrito sobre a operação, embora tenha dado algumas dicas claras na quinta-feira, sem se referir a Kursk.
Ele elogiou a capacidade de seu exército de “surpreender”. E em seu discurso noturno em vídeo, ele agradeceu às unidades do exército que fizeram prisioneiros militares russos, para serem usados em negociações posteriores.
“Isso é extremamente importante e tem sido particularmente eficaz nos últimos três dias”, disse ele.
Ben Barry, analista de guerra terrestre do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, disse que, embora seus objetivos estratégicos mais amplos permanecessem obscuros, a Ucrânia expôs as deficiências russas e anulou a sabedoria convencional sobre a guerra de que nenhum dos lados poderia avançar sem grandes perdas.
“Eles claramente alcançaram um grau de surpresa que sugere que a capacidade da Rússia de fazer inteligência, vigilância e reconhecimento é inadequada”, disse ele em uma entrevista por telefone.
Um canal ucraniano do Telegram que postou o vídeo dos caminhões russos destruídos disse que eles foram atingidos por um sistema de foguetes HIMARS fornecido pelos EUA. Blogueiros russos também culparam um ataque HIMARS.
A Reuters não conseguiu estabelecer como os veículos foram destruídos.
Os Estados Unidos anunciaram um novo pacote de ajuda de US$ 125 milhões para a Ucrânia, incluindo mísseis Stinger, munição de artilharia e sistemas antiblindagem. Zelenskiy disse que o pacote era “vital para nossas forças combaterem os ataques russos”.
O Ministério da Defesa da Rússia divulgou seu próprio vídeo que, segundo ele, mostrou um drone destruindo um tanque e um obus ucranianos perto de Sudzha. A Reuters conseguiu verificar a localização.
Avançando para o território russo
O ministério disse que nas 24 horas anteriores, tropas russas, ataques aéreos e artilharia “suprimiram tentativas de ataque de unidades inimigas em território russo na direção de Kursk”.
O relatório disse que a Ucrânia havia perdido até 945 soldados e 102 veículos blindados no total, sem mencionar nenhuma perda russa.
A Reuters não conseguiu verificar os relatos do campo de batalha. Na quarta-feira, Gerasimov disse que o ataque ucraniano foi montado por até 1.000 tropas.
O Instituto para o Estudo da Guerra disse em um relatório noturno que imagens geolocalizadas e relatos russos indicaram que as forças ucranianas tinham “continuado avanços rápidos”.
Houve relatos não confirmados de fontes russas de ucranianos avançando até 35 km (22 milhas) da fronteira.
