Nos dias e semanas que antecederam a morte de Matthew Perry, o ator usou grandes quantidades de cetamina — a droga responsável por sua morte — fornecida por uma rede de médicos, seu assistente pessoal, um conhecido e um traficante de drogas, disseram promotores federais na quinta-feira.
Aqui está o que você precisa saber sobre a cetamina.
O que é cetamina?
A cetamina é um alucinógeno que foi aprovado pela Food and Drug Administration como anestésico para cirurgias décadas atrás, mas também é usado ilegalmente como droga para festas.
Nos últimos anos, pesquisas crescentes descobriram que a cetamina também funciona para depressão resistente ao tratamento em algumas pessoas, levando a um aumento no que é conhecido como uso off-label, a prática legal de médicos prescreverem um medicamento aprovado para uma condição para a qual ele não foi aprovado.
Como a cetamina é usada para depressão?
O Dr. Brandon Hamm, psiquiatra que dirige a clínica de infusão de cetamina na Northwestern Medicine, em Chicago, disse que o valor do medicamento reside, em parte, na rapidez com que ele funciona.
“É um medicamento importante porque oferece algo rápido e eficaz para algo que é uma grande fonte de incapacidade para as pessoas”, disse Hamm. “A depressão resistente ao tratamento causa grande sofrimento.”
Uma versão ligeiramente diferente da cetamina, chamada esketamina ou Spravato, foi aprovada pelo FDA em 2019 para depressão resistente ao tratamento. A esketamina é dada como spray nasal e deve ser administrada em um consultório médico; é aprovada apenas para pessoas para as quais outros tratamentos para depressão falharam.
As clínicas de cetamina são seguras?
Aqueles que lutaram contra depressão grave e tiveram sucesso com cetamina dizem que ela pode salvar vidas. Mas tem havido preocupações crescentes entre alguns médicos, pois centenas de clínicas de cetamina foram abertas nos EUA, cobrando centenas de dólares, em alguns casos, por infusões, injeções e formas orais da droga.
As clínicas o comercializam como um tratamento para tudo, desde depressão até transtorno obsessivo-compulsivo — até mesmo dependência —, mas apenas alguns estudos pequenos analisaram seus benefícios para condições de saúde mental além da depressão resistente ao tratamento.
Quais são os riscos da cetamina?
“Há riscos com a cetamina, e esse é o equilíbrio”, disse Hamm. “Ela tem muito poder, e o problema é que há alguns riscos com ela, e a prescrição criteriosa é importante.”
Os riscos incluem aumento da pressão arterial, respiração lenta, problemas de bexiga e abuso. Também pode parar a respiração de uma pessoa se for tomado muito ou se for tomado em combinação com outros medicamentos ou álcool.
“Se administrado por via intravenosa, o medicamento pode atingir doses alarmantes, quase anestésicas, muito rápido”, disse a Dra. Padma Gulur, professora de anestesiologia e saúde populacional na Duke Health, na Carolina do Norte. “Portanto, não devemos esquecer que isso é algo que deve ser feito em um ambiente muito controlado, porque alguém precisa estar lá para dar suporte à sua respiração, monitorar seus sinais vitais, etc.”
No outono passado, o FDA emitiu um aviso sobre alguns tipos de cetamina, dizendo que o medicamento não é aprovado para nenhum transtorno psiquiátrico e alertando sobre tomá-lo em casa, o que pode ser ainda mais arriscado sem um médico no local para monitorar os efeitos colaterais graves da sedação e dissociação.
“Não é um medicamento sobre o qual sabemos o suficiente em termos de segurança e eficácia para uso em longo prazo como paciente ambulatorial, e mais pesquisas precisam ser feitas sobre isso”, disse Gulur.
A cetamina causa dependência?
Sim.
“É uma droga poderosa à qual você pode se viciar facilmente”, disse Gulur. “Isso é algo que, infelizmente, muitas pessoas não sabem. E se for uma droga à qual você vai se viciar facilmente, é necessário cuidado extra ao prescrevê-la para alguém que demonstrou alguns sinais de estar em risco de comportamentos viciantes.”
Gulur disse que critica muitas clínicas de cetamina porque elas podem estar prometendo demais os benefícios do medicamento.
“Está atacando uma população vulnerável”, ela disse. “Pessoas deprimidas e com dor crônica são um dos nossos subconjuntos mais vulneráveis, e elas estão procurando algum tipo de ajuda e conserto. Acho que isso precisa ser feito de forma responsável e, honestamente, pessoas que não estão pensando nisso devem ser responsabilizadas.”
Gulur também disse que os médicos precisam supervisionar os tratamentos.
“Precisa ser parte de um plano maior, e alguém que esteja monitorando a segurança dos vários elementos dos planos”, ela disse. “Então, quem é seu quarterback? Onde está seu médico de atenção primária? Onde você sabe quem está se certificando de que seu plano de tratamento é seguro para você.”