Com o aumento dos casos de Covid neste verão, a próxima distribuição de vacinas atualizadas no outono levanta uma questão importante: elas chegarão a tempo de fazer a diferença?
As ondas de Covid não seguiram um padrão sazonal e previsível como a gripe, que normalmente começa a se espalhar no outono e atinge o pico no final do inverno e na primavera. As vacinas contra a gripe, que levam duas semanas para serem totalmente protetoras, geralmente são recomendadas em setembro ou outubro.
As novas vacinas contra a Covid, que têm como alvo a cepa KP.2, descendente da variante JN.1 altamente contagiosa que surgiu no inverno passado, devem ser distribuídas nas próximas semanas.
Mesmo que as vacinas estejam disponíveis no próximo mês, imunologistas e especialistas em doenças infecciosas não esperam que elas tenham muito efeito na atual onda de verão. As vacinas serão importantes, no entanto, à medida que os EUA se encaminham para o outono e inverno, quando os casos geralmente aumentam novamente.
“A história nos diz que, se houver uma nova e significativa onda de Covid, é mais provável que aconteça no outono do que nesta época do ano”, disse John Moore, professor de microbiologia e imunologia no Weill Cornell Medical College. “Em retrospecto, isso poderia ter sido feito antes? É muito difícil criticar o plano atual porque ele é lógico e razoável.”
“Você está meio condenado se fizer e meio condenado se não fizer”, ele acrescentou.
A Covid pode aumentar ao longo do anode acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças. Dados dos quatro anos de Covid mostram que ela atinge o pico no inverno — dezembro e janeiro — e também nos meses quentes de verão de julho e agosto. Em 2024, os casos começaram a aumentar em junho e ainda estão altos, mostra o rastreador de dados de águas residuais do CDC.
Apesar das ondas duplas, a Food and Drug Administration tem seguido uma rotina semelhante à atualização anual da vacina contra a gripe. Especialistas em vacinas selecionam a cepa da Covid na primavera para uma campanha de vacinação no outono.
O ideal seria que as autoridades de saúde pública administrassem as vacinas contra a Covid pouco antes de cada onda para diminuir a transmissão, a infecção e a gravidade da doença, disse Akiko Iwasaki, imunologista da Universidade de Yale.
Mas até que os EUA consigam definir o momento certo, “talvez a coisa certa a fazer neste momento seja dar duas doses de reforço por ano, uma no início do verão e outra no outono”, disse ela, acrescentando que o prazo para a distribuição da vacina no outono é uma “pergunta boa, mas complicada”.
“É claro que esses reforços precisam ser bem adaptados à variante circulante”, disse ela.
Na verdade, em fevereiro, o FDA e o CDC recomendaram um reforço para pessoas com maior risco de complicações mais graves da Covid — principalmente aquelas com 65 anos ou mais. O objetivo era oferecer proteção antes de outro provável surto de verão. Apenas cerca de 10% dos adultos com 65 anos ou mais receberam o reforço de duas doses em 2023-24, e a onda de verão aconteceu de qualquer maneira.
No outono passado, quando os dados do CDC mostraram um aumento nas hospitalizações, alguns médicos criticaram o FDA por esperar muito tempo para lançar as vacinas atualizadas contra a Covid.
O FDA considerou mudar o cronograma de distribuição das vacinas no outono, agora no início de setembro?
Em uma resposta por e-mail, um porta-voz da FDA direcionou a NBC News aos comentários que a epidemiologista do CDC Ruth Link-Gelles fez na reunião do comitê consultivo da FDA em junho. Link-Gelles destacou os desafios em determinar o momento ideal para administrar as vacinas da Covid.
“Para gripe e RSV, temos anos e anos de dados com tendências muito semelhantes ao longo do tempo”, disse ela. “Então você não consegue acertar seu relógio para quando essas estações vão começar, mas você pode chegar bem perto. Para a Covid, isso não é verdade. Vimos surtos no verão, em agosto, nos últimos anos. Então se torna um pouco um jogo tentar jogar para cronometrar a introdução da vacina contra a Covid.”
Muitas pessoas, incluindo adultos jovens e saudáveis, provavelmente não precisariam de mais de uma vacina contra a Covid por ano, disse o Dr. Isaac Bogoch, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Toronto.
“Acho que é impossível fazer uma declaração geral para uma população de mais de 300 milhões de pessoas”, disse ele. “Há algumas pessoas que correm risco de Covid grave que tiveram uma longa duração entre agora e suas vacinas mais recentes que podem estar em maior risco, e talvez nessas situações, uma vacina seja uma ideia razoável antes da campanha de outono.”
O tempo que uma pessoa fica protegida da Covid após uma infecção pode variar com base em uma série de fatores, incluindo a gravidade da infecção, a cepa e a idade e a saúde da pessoa. Estudos mostraram que a proteção pode durar três meses ou mais.
O Dr. Ofer Levy, diretor do Programa de Vacinas de Precisão do Hospital Infantil de Boston, alertou sobre uma falsa sensação de segurança entre aqueles que forem infectados durante o aumento do verão.
Mesmo que alguém seja infectado, as vacinas ainda serão importantes, já que a infecção natural não oferece o mesmo nível de proteção, disse Levy.
“A infecção natural lhe dá alguma proteção? Sim, é melhor você acreditar que sim”, disse Levy. “No entanto, não é o mesmo nível de proteção oferecido pelas vacinas.”
Moore, da Weill Cornell, diz que o FDA está certo em manter o cronograma de outono.
“Não estou tentando banalizar o que está acontecendo no momento, mas se houver um aumento maior, será no final do ano”, disse Moore.