PARIS — Após uma pandemia global e com pelo menos três guerras em andamento, os organizadores da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, na sexta-feira, esperam proporcionar alívio, positividade e talvez até alguma união em um mundo cada vez mais assolado pela tensão.
Nunca houve uma celebração tão ambiciosa durante os 128 anos de história da Olimpíada moderna. Em vez de desfilar dentro de um estádio, cerca de 10.500 atletas navegarão em uma flotilha de 3,5 milhas de 94 barcos pelo icônico Rio Sena de Paris. Pode ser um retorno de sucesso para o festival esportivo de verão, que receberá espectadores pela primeira vez em oito anos após os dias atormentados pelo coronavírus em Tóquio em 2021.
O espetáculo da cerimônia de abertura normalmente atrai espectadores que podem nem mesmo acompanhar o atletismo, e a extravagância ao ar livre deste ano promete não ser diferente. A chegada de Céline Dion e Lady Gaga na Cidade das Luzes levou à especulação de que uma — ou ambas — das estrelas pop poderiam até subir ao palco na sexta-feira.
A França aumentou sua segurança antes dos jogos, após um ataque terrorista em Moscou em abril. O nível de ameaça elevado “é absolutamente justificado”, disse François Heisbourg, um dos maiores especialistas em terrorismo da França.
“A segurança é uma preocupação constante para qualquer grande evento internacional ou global, então, quando falamos sobre as Olimpíadas, as preocupações com a segurança tendem a ser extraordinariamente vívidas”, disse Heisbourg, que aconselhou sucessivos primeiros-ministros.
Esses medos vieram à tona horas antes do início das festividades, quando a rede ferroviária estatal de alta velocidade da França foi atingida por “vários ataques incendiários simultâneos”, interrompendo as viagens de 800.000 pessoas, disse a operadora governamental SNCF.
“Pedimos a todos os passageiros que adiem a viagem e não se dirijam à estação”, disse a empresa em comunicado na sexta-feira.
Sexta-feira é uma das datas mais movimentadas do calendário para os turistas franceses e muitos parisienses, particularmente aqueles desanimados com as Olimpíadas, estão planejando deixar a cidade. Os trens TGV de alta velocidade indo para o leste e oeste foram “muito interrompidos”, disse a SNCF. A rota sudeste foi poupada, com a operadora dizendo que um “ato malicioso foi frustrado”.
Os organizadores dizem que a cidade em si fornecerá um cenário inesquecível, com eventos intercalados entre seus marcos mais reconhecíveis, como a Torre Eiffel. Ao mesmo tempo, eles dizem que os Jogos serão os mais ecologicamente corretos até agora, com 95% dos edifícios temporários ou já de pé — e nenhum sistema de ar condicionado instalado nos quartos da vila dos atletas.
Grande parte do formato dos Jogos será familiar. Mais de 200 equipes nacionais estão competindo em 329 eventos realizados ao longo de 19 dias (alguns eventos de handebol, futebol e rúgbi aconteceram na quarta-feira). E em uma tentativa de atrair públicos mais jovens, haverá quatro novas disciplinas: escalada esportiva, skate, surfe e break dance (oficialmente conhecido como “breaking”).
Nem todos os eventos serão realizados na capital, com a vela na cidade de Marselha, no sul do Mediterrâneo; o handebol e o basquete em Lille, ao norte; e o surfe no outro lado do mundo, na ilha do Taiti, na Polinésia Francesa.
Os torcedores americanos estarão ansiosos para ver se superestrelas que retornam, como Katie Ledecky e Simone Biles, podem aumentar suas conquistas de medalhas na natação e na ginástica, respectivamente. Ou se nomes como LeBron James e Steph Curry vão iluminar a quadra de basquete.
Os quase 600 atletas da equipe dos EUA compõem um elenco repleto de talentos, com mulheres superando em número os homens, de 314 a 278. Há muitos rostos novos também, incluindo a ginasta Hezly Rivera e a corredora transgênero Nikki Hiltz.
Mais Olimpíadas da NBC News
Com grandes talentos vêm as expectativas, e a previsão é que os Estados Unidos liderem a tabela, com 123 medalhas no total, contra 87 da China, de acordo com a Gracenote Sports da Nielsen, que fornece análises estatísticas para ligas esportivas ao redor do mundo.
No entanto, esta edição pioneira dos Jogos não está isenta de riscos e críticas.
A natureza extensa da cerimônia de abertura e os eventos densamente lotados significaram uma operação de segurança extensa e imperiosa. Cerca de 40.000 militares e policiais estão mobilizados em todo o país, e Paris está repleta de postos de controle rigorosos e vigilância geral.
Os Jogos provocaram emoções conflitantes entre os parisienses. Uma pesquisa realizada no mês passado pelo pesquisador Odoxa descobriu que cerca de 40% dos franceses não acham que os Jogos são “uma coisa boa”, o que aumentou em mais de 10% nos últimos três meses.
E embora o orçamento de US$ 10 bilhões dos Jogos esteja muito abaixo do de edições anteriores, alguns franceses dizem que isso é um desperdício de dinheiro em um momento em que a dívida do governo está aumentando e alguns economistas estão soando o alarme sobre as finanças do país.
Tudo isso está no contexto de uma crise política na França. As recentes eleições parlamentares viram coalizões centristas e esquerdistas bloquearem a extrema direita do poder, mas, ao fazer isso, criaram condições para um impasse político que pode segurar o país por anos. (O segundo mandato do presidente Emmanuel Macron termina em 2027.)
O próprio Sena é suposto ser uma estrela do show. Mas mesmo isso tem sido repleto de problemas. Uma atualização de 1,5 bilhão de euros (US$ 1,6 bilhão) no antiquado sistema de esgoto da cidade tem lutado para reduzir os níveis de poluição do rio o suficiente para sediar a etapa de natação do triatlo e a maratona.
Num relatório emitido na semana passadaautoridades de Paris disseram que duas fortes chuvas em Paris tiveram um “efeito prejudicial” na qualidade da água, embora a qualidade do Sena tenha se recuperado rapidamente e “estivesse em conformidade com os limites de segurança definidos pela UE” no local olímpico por seis dias ao longo de uma semana.
A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, como prometido, deu um mergulho no rio no início deste mês e insistiu que ele estava limpo o suficiente para o início das Olimpíadas.
“A água é maravilhosa”, disse Hidalgo à NBC News depois de sair da água, acrescentando que era “muito fria e muito agradável”.
Na esteira de um vírus mortal, guerras devastadoras e crescente divisão política, o mundo pode estar ansioso por alguma esperança e escapismo. Os organizadores dos Jogos estão apostando que os espectadores ao redor do mundo estão prontos para dar o salto.
Alexander Smith relatou de Paris e Daniel Arkin de Nova York.
